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Umberto Eco: 14 lições para identificar o fascismo

Publicado às | 5.11.18
Em junho de 1995, o escritor e filósofo Umberto Eco, autor dos clássicos “O Pêndulo de Foucault” e “O Nome da Rosa”, publicou um ensaio enumerando 14 características comuns do fascismo.
Em seu texto, publicado no “New York Review of Books”, Umberto Eco escreve: “apesar da imprecisão do termo, acho que é possível fazer uma lista de elementos que são típicos do que eu gostaria de chamar de Fascismo Eterno. Esses elementos não podem ser organizados em um sistema; muitos deles contradizem uns aos outros, e também são típicos de outros tipos de despotismo ou fanatismo. Mas basta que um deles esteja presente para permitir que o fascismo se organize em torno dele”. 

Com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil, o mundo voltou os olhos para cá, preocupado com o crescimento deste fenômeno que acontece também em outros países: o fascismo respaldado pelas urnas. 

As 14 lições deixadas por Umberto Eco são de uma atualidade assustadora: 

1 — O culto à tradição. Basta olhar para o programa de todo movimento fascista para encontrar ali os maiores pensadores tradicionalistas.

2 — A rejeição ao modernismo. O Iluminismo, a Idade da Razão, é visto como o começo de toda a depravação moderna. O fascismo pode ser definido como irracionalismo.

3 — O culto à ação pela ação. A ação, sendo bela por si só, deve ser tomada antes, ou mesmo sem qualquer reflexão prévia. Pensar é uma forma de emasculação.

4 — Discordância é traição. O espírito crítico faz distinções, e isso é uma forma de modernismo. Na cultura moderna a comunidade científica elogia a discordância, como uma forma de aprimorar o conhecimento.

5 — Medo das diferenças. O primeiro apelo de um movimento fascista ou prematuramente fascista é contra os intrusos. Assim, o Fascismo Eterno é racista por definição.

6 — Apelo à frustração social. Um dos mais típicos traços do fascismo histórico foi o apelo a uma classe média frustrada, uma classe que sofre os efeitos de uma crise econômica ou abriga sentimentos de humilhação política, assustada pela pressão de grupos sociais subalternos.

7 — A obsessão por um enredo. Os seguidores devem se sentir sitiados. A forma mais fácil de resolver isso é apelando à sua xenofobia.

8 — O inimigo é ao mesmo tempo forte e fraco. Através de uma contínua oscilação no foco retórico, os inimigos são ao mesmo tempo fortes demais e excessivamente fracos.

9 — Pacifismo é se confraternizar com o inimigo. Para o Fascismo Eterno, não existe a luta pela vida: em vez disso, a vida é vivida para lutar.

10 — Desprezo pelos fracos. Elitismo é um aspecto típico de qualquer ideologia reacionária.
11 — Todos são educados para se transformarem em heróis. Na ideologia do Fascismo Eterno, heroísmo é a norma. Este culto ao heroísmo é estritamente ligado ao culto à morte.

12 — Machismo e armas. O Machismo implica ao mesmo tempo um desdém pelas mulheres e uma intolerância — e condenação — a hábitos sexuais fora do padrão, da castidade à homossexualidade.

13 — Populismo seletivo. No nosso futuro haverá o populismo de TV ou de Internet, no qual a resposta emocional de um seleto grupo de cidadãos pode ser apresentada e aceita como a Voz do Povo.

14 — O Fascismo Eterno fala a Novilíngua de Orwell. Todos os livros didáticos do Nazismo ou Fascismo faziam uso de um vocabulário pobre e de sintaxe elementar, a fim de limitar os instrumentos para um raciocínio complexo e crítico. 



Do Portal Vermelho, com Revista Bula